Desde o dia 01 de setembro, foi deflagrada, em assembleia,  uma paralisação de atividades dos estudantes da UFRB. Estudantes de todos os  campi, mobilizados por diversos problemas que nos afetam e impedem um ensino e  formação de qualidade, compreenderam que o melhor a fazer era uma greve seguida  de ocupação dos Centros. Já estamos avançando para o 23° dia de ocupação e a  esta altura, boatos, especulações e, principalmente, mentiras surgem de todos os  lados com um só objetivo: desestruturar o movimento através de falsas  acusações.
Embora muito tenha se falado sobre uma “paralisação  prematura”, a verdade é que esta discussão já tem cerca de dois anos acontecendo  nos encontros do CEB’s – Conselhos de Entidades de Base - que reúne os  diretórios acadêmicos de todos os centros.
Estamos sem  água nos Centros, mesmo o Reitor tendo afirmado na última mesa de negociação que  iria religar a água e a internet nos campi, enfrentamos péssimas condições  alimentares e somos acusados constantemente de cometer atos que em nada  correspondem com a luta que o movimento vem tentando estabelecer em prol de uma  Universidade de qualidade, como é o direito de todos nós.
Particularmente, fui acusado de diversos atos que não cometi,  e que não vem ao caso entrar em detalhes para que especulações maiores não sejam  geradas, o que posso afirmar agora é: Assim como a maioria dos estudantes, não  estou satisfeito com a situação que estamos vivendo, não decidimos pela  paralisação por estarmos felizes com as condições que vínhamos enfrentando  dentro das salas de aula, pelo contrário, a situação a muito ficou insustentável  e  é por isso que eu, e todos os outros que aderiram a luta,  estamos abrindo mão do conforto e segurança de nossos lares para abraçar esta  luta.
Mais do que muitos que insinuam uma necessidade imediata de  assistir aula, eu, pela minha trajetória pessoal de lutas e sobrevivência,  compreendo a importância e a diferença que as aulas fazem em nossa vida  acadêmica, mas nesse momento, tratar a universidade como um espaço apenas de  aulas, sem reivindicações e luta estudantil, seria um completo despropósito.  Apesar disso, respeito as manifestações que são contrárias, e entendo que, assim  como temos o direito de ser a favor da paralisação, outros tem de ser  contra.
Quero deixar claro, que as mentiras que surgem em meu nome e  em nome de todos os colegas que fazem parte do movimento não vão parar nossa  luta. Pelo contrário, não estamos preocupados com especulações, os fatos gritam  em nossos ouvidos e pedem soluções imediatas. Lembro ainda que, o movimento é  diverso e em algum momento fica impossível controlar atitudes individuais que  podem parecer ir de encontro ao objetivo principal da paralisação, mas temos  feito todo o possível para manter a situação em um nível controlável.
No entanto, fui obrigado a presenciar uma cena lamentável na  noite de ontem, quando um estudante, contrário ao movimento, disparou um tiro  dentro do campus de Cruz das Almas. Felizmente, ninguém se machucou. Um Boletim  de Ocorrência foi feito e esperamos que as medidas necessárias sejam tomadas  para que atitudes como estas não voltem a ocorrer.
No mais, certifico a todos que a minha luta, a nossa luta,  não visa prejudicar, ferir ou desrespeitar qualquer estudante. Essa não é nossa  meta e nossas ações caminham no lado oposto. Lutamos por respeito, lutamos para  que os nossos direitos, e também de todos aqueles que se opõem tentando nos  prejudicar com inverdades, sejam assegurados.
Estou a disposição de todos que desejarem tirar dúvidas sobre  a paralisação, sobre o que vem sendo discutido nas mesas de negociação e nos  Centros. Asseguro ainda que, o nosso interesse é unicamente ter nossas  reivindicações atendidas para voltar a normalidade de nossas aulas o mais rápido  possível.
Grato.
-- Valdir Alves.
Graduando em Ciências Sociais;
Educador de Ensino em Bases Africanas no Grupo de Ação para Promoção Educacional Científico-Cultural (Gapecc);
Bolsista da CNPq com o Projeto Frente de Libertação em Moçambique (Frelimo).
 
 
    
